15 minutos.

Já era 7:45 da manhã, faltavam apenas 15 minutos para meu quiosque preferido a beira da praia abrir, mas faltava o mesmo tanto de tempo para eu ir embora. 15 minutos para eu ir embora. 15 minutos para eu perder o sentido e a razão. Para meu mundo se desmanchar em lágrimas. Eu me perdi na escuridão. 15 minutos podem mudar uma vida, e foi isso o que aconteceu.
Eu me lembro como se ele estivesse aqui, agora. Ele tinha os cabelos escuros sempre arrumados em um topete desajeitado. Seus óculos escuros, mesmo sendo brancos, combinavam com seu jeito... Por causa deles, nunca vi seus olhos! Se não me engano, tinha uma tatuagem no braço esquerdo. Nada chamativo, apenas uma frase de duas ou três palavras que não consegui ler. Seu sorriso me prendia, seu riso me alucinava. Estava sempre indo e vindo naquela maré de pedidos... Na maioria das vezes, usava seu uniforme, uma camisa branca, aberta na frente... Nem muito, mas nem pouco, o suficiente para me fazer delirar. Sempre com a mesma bermuda jeans cinza com algumas manchas mais claras. Descalço, combinava com a areia.
A pele era de um tom moreno, mas bronzeado, saudável... Havia um charme naquilo tudo! Seu tom de voz me fascinava. Até hoje, não guardei uma voz como consegui guardar a dele. Parece que ele está sempre ao meu lado, como naquela última vez. Como se eu pertencesse a ele, a distância me atormenta. Ele por inteiro me atormenta, me perturba. Ele me possui, me consome, me tem. Ele me faz chorar, me faz sorrir, eu já nem sei mais!
Sei seu nome, mas isso não basta. Se aquelas areias falassem, tentariam explicar meu delírio por aquele mero e simples empregado de um quiosque do litoral... Se aqueles ventos falassem, lhe diriam todas as frases de amor que pronunciei em silêncio. Se o litoral pudesse lhe dizer... Se ele pudesse te contar tudo, entenderia meu fascinio.
Se ele aparecesse.. Nem que nos meus sonhos, eu lhe diria tudo novamente, e eu sei que ele responderia da mesma maneira...
"Você não gosta daqui?"