06/10/2012

Buraco em pedaços


Você explode uma vez e aí não tem mais volta. Seu corpo continua intacto, mas seu interior - essência, psicológico, alma, seja lá como você queira chamar - se divide em milhares de pedaços que voam para o alto e para longe. Não importa quantos pedaços você achou e colocou de volta no lugar, sempre vai faltar alguma parte, sempre vai haver um buraco.
E é por esse buraco que você nunca consegue cobrir que a explosão sai toda vez. Cada explosão acontece por um motivo diferente, e a cada surto, mais partes são perdidas. Quanto mais partes se perdem, maiores são as chances de uma explosão acontecer.
E de repente todos os pedaços se foram. O que você vai fazer agora?
Você perdeu a essência. A consciência. O psicológico. A alma. Você se perdeu.
Não resta nada além do físico e do palpável.
Você não quer acreditar.
É mais fácil procurar com as próprias mãos aquilo que um dia fez você achar que estava viva. Batimentos cardíacos não resolvem mais seu problema. Você vai mais além, procura em buracos que já haviam sido fechados e eles se abrem do mesmo jeito que você lembrava. A sensação de algo escorrendo por entre os seus dedos, o cheiro da ferrugem que toma conta do ambiente, a dor, a dormência e, em seguida, a sensação de alívio.
Você achou o que procurava.
Em questão de segundos, você encontra todos aqueles pedaços de si mesmo que haviam sido perdidos.
Você sabe o que pode colá-los.
Você já tem o necessário.
É a dor que te traz de volta à realidade. Quem diria, você existe mesmo. Seu corpo não explodiu. Ainda existe carne debaixo da sua pele e sangue correndo pelas suas veias. De alguma forma, é aliviante saber que todos os pedaços se juntaram novamente.
E aquele buraco que fora aberto para comprovar sua existência se fecha, e a cada sequência de "explodidas", você sabe muito bem o que e aonde procurar.
O buraco se fecha, mas sua marca continua ali, esperando ser aberto a qualquer momento.
E o buraco se fecha...
E se fecha...
E se fecha novamente...
Porque ele nunca para de abrir.